Clodovil Hernandes
Revista QUEM

O deputado federal Clodovil Hernandes morreu no último dia 17, em Brasília, aos 71 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). O ex-estilista e apresentador havia sido internado no Hospital Santa Lúcia na manhã do dia anterior, após ser encontrado caído ao lado de sua cama. Segundo os médicos, Clodovil teve o AVC durante a madrugada de segunda-feira (16). Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo, na quarta-feira (18). No mesmo dia, foi enterrado no Cemitério do Morumbi, ao lado do corpo da sua mãe adotiva, Isabel Sanchez Hernandes. Clodovil costumava dizer que não temia a morte – seu único medo era não encontrar a mãe quando partisse. A figura materna foi tão importante para ele que em seu testamento está prevista a criação da Fundação Isabel, uma instituição que dará abrigo e educação a meninas órfãs.
Nascido em Elisário, no interior de São Paulo, em 1937, ele foi adotado pelo casal de espanhóis Isabel e Domingos Hernandes. Formou-se professor em São Paulo, mas logo começou a trabalhar como estilista. Seus primeiros croquis foram vendidos para uma empresária que tinha uma loja de vestidos de festa no centro da cidade. Nas décadas de 60 e 70, foi um dos mais destacados nomes da alta-costura brasileira, ao lado principalmente de Dener, com quem mantinha uma disputa. Recentemente, Clodovil disse que a briga entre os dois era combinada – uma jogada de marketing.
No início dos anos 80, ele estreou no TV Mulher, da Rede Globo, ao lado da sexóloga Marta Suplicy e da jornalista Marília Gabriela. Clodovil abandonou o programa durante a transmissão ao vivo por desavenças com Marília Gabriela. Anos mais tarde, envolveu-se numa polêmica com sua outra ex-colega, Marta Suplicy, a quem chamou de “inútil”, “desocupada” e “perua que teve sorte”. Em 1992, na TV Manchete, ganhou o primeiro programa próprio, Clodovil Abre o Jogo. Aos poucos, foi abandonando a moda e assumindo o homem de TV. No início dos anos 2000, participou do programa A Casa É Sua, na Rede TV!. Novamente abandonou o trabalho com o programa no ar. Em 2004, retirou-se dos estúdios da emissora em protesto ao Pânico na TV, que o havia perseguido para fazê-lo calçar as “sandálias da humildade” – coisa que ele nunca fez. No começo de 2005, foi demitido. Na TV, fez ainda os programas Mulheres (TV Gazeta) e Por Excelência (TV JB).
O apresentador tinha atitude contraditória em relação a sua sexualidade. Ao mesmo tempo em que fazia comentários e piadas, declarava que a homossexualidade era um distúrbio, um desvio que violava as regras divinas. Recentemente, revelou que só aceitou o fato de ser gay após os 60 anos. Em 2006, foi criticado por organizações de direitos civis ao dizer que a luta pelo casamento gay era “uma bobagem”.
A vida política começou quando foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), em 2006. Na época, declarou que o Congresso nunca mais seria o mesmo depois de seu mandato. Suas primeiras medidas foram estéticas. Tomou posse vestido com um terno de linho branco, usando chapéu e bengala, e fez uma reforma de 200 mil reais em seu gabinete, com direito a uma mesa com pés em forma de najas. Pouco depois da posse, mudou para o Partido da República (PR) e quase perdeu o mandato por infidelidade partidária. Sua atuação política foi marcada por uma série de acusações de racismo, machismo e outros tipos de preconceito. No caso mais famoso, em maio de 2007, Clodovil discutiu no plenário com a deputada Cida Diogo, que se ofendeu depois de ouvir do apresentador que “as mulheres ficaram muito ordinárias, vulgares, cheias de silicone”. Cida chorou ao ouvir a resposta de Clodovil: “Digamos que uma moça bonita se ofendesse porque ela pode se prostituir. Não é o seu caso. A senhora é uma mulher feia”.
UMA VIDA POLÊMICA | |
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![]() | ANOS 60 E 70 O ESTILISTAFormado professor primário, ele fazia croquis que o lançaram no mercado da moda. Tornou-se o costureiro das socialites e estrelas como Cacilda Becker e Elis Regina |
![]() | 1990 TV MULHER Em sua primeira atuação como apresentador, Clodovil ainda tinha a imagem muito ligada ao trabalho como estilista |
![]() | 2003 A CASA É SUAO ex-estilista tem um quadro no programa de variedades da Rede TV! |
![]() | 2004 PÂNICO NA TVO apresentador é alvo de uma das “brincadeiras” do Pânico e acaba saindo brigado da Rede TV! |
![]() | 2006 O POLÍTICOEleito deputado federal, faz uma grande reforma em seu gabinete na qual foram gastos 200 mil reais |
“Meu amor, ninguém nasce viado porque quer, isso é uma coisa de Deus, agora ser puta é condenável porque é uma escolha da garota!”
“Mas, gente, eu não me aceitava! Até que aos 60 anos de idade eu tive um insight: ‘Se existem os estéreis, então não é errado ser gay’.”
“Família é que nem dente: quanto mais longe um do outro melhor, para não juntar sujeira no meio.”
”Na minha idade, eu só aprecio sexo se for bem-feito; e, sexo bem-feito, só com profissional!”
”A emissora não estava preparada para me receber, é a mesma coisa que chamar o Pelé para jogar futebol em um time de Araraquara!”
Sobre a Rede TV!
”Não tenho medo de ninguém. Sou feito cachorrinho. Passa a mão nas minhas costas que eu já abano o rabo.”
Em visita ao Congresso (10/10/2006)
”Se o Collor tinha aquilo roxo, o meu é cor-de-rosa-choque. O vencedor nessa campanha não foi o Maluf, nem o Russomano. Fui eu.”
Para o G1, depois de ser eleito, em 2006
”Se você não votou em mim, não pode me cobrar nada. Eu vou fazer do jeito que eu sei. Eu não sou político de profissão.”
Idem
”Evidente que foi (armado o ataque contra as torres gêmeas) pelos próprios americanos, não seja idiota, é como o holocausto, você acha que não tinha nenhum judeu manipulando isso por debaixo do pano?”
Em entrevista à Rádio Tupi
”…não posso respeitar um analfabeto. Ele não poderia ser nem vereador!”
Em uma entrevista para a revista Flash, referindo-se ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva